Monday, March 9, 2009

A Santíssima Trindade1

A Santíssima Trindade
Parte1

São Paulo 2005
CHRISTIAN LEPELLETIER

Trabalho Científico Orientado, apresentado como atividade obrigatória do Curso de Lato Sensu em Teologia.

CENTRO UNIVERSITÁRIO ASSUNÇÃO UNIFAI

ORIENTADOR: Prof. Dr. DOMINGOS ZAMAGNA

Aprovada em dezembro de 2005.

RESUMO

A presente pesquisa tem por objetivo de analisar a formação do dogma da Santíssima Trindade na história da tradição cristã. A partir do século II, os intelectuais cristãos começaram a formular a doutrina de Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. Os teólogos criaram uma linguagem trinitária para tentar definir a natureza das três pessoas e o relacionamento entre elas. S.Agostinho produziu quinze livros para elaborar uma exposição sistemática do mistério trinitário. Apesar de uma longa sucessão de mestres teólogos trabalhando arduamente para reafirmar o dogma, até os dias atuais, ninguém jamais respondeu inteiramente as numerosas questões e controvérsias geradas pela fixação da doutrina, desde o Credo de Nicéia em 325. Analisando várias fontes de teologia contemporânea, é possível encontrar caminhos novos de interpretação transcendendo as fronteiras de denominações e religiões, clarificando o conceito de Deus Pai-Mãe de toda a humanidade, de Jesus Cristo, o Filho, homem aperfeiçoado de valor divino e do Espírito Santo feminino como Mãe doando o “renascimento espiritual” para toda a humanidade. Deus Criador pode ser conhecido por meio de suas obras, Deus não abandona sua criatura, mesmo depois da queda, Ele dirige a providência divina de salvação. Quando chegou a plenitude do tempo, enviou Deus seu Filho, o Messias Jesus de Nazaré, nascido da Virgem Maria, movidos pela graça do Espírito Santo chegamos a aceitar Jesus Cristo como nosso Salvador. Devido à falta de fé e a rejeição do povo de Israel, ele morreu crucificado, deixando inacabado o plano da construção do Reino de Deus. Apareceu ressuscitado e mobilizou seus discípulos que fundaram as primeiras comunidades cristãs. Ele prometeu seu retorno em breve, Cristo virá para realizar o triunfo definitivo do bem sobre o mal.

Palavras-chaves: Trindade, Deus, Jesus, Espírito Santo.

SUMÁRIO



INTRODUÇÃO..............................................................................................06
1- HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA.........................................08
1.1 TEÓLOGOS CRIADORES DA LINGUAGEM TRINITÁRIA....................................08
a) Santo Ireneu...................................................................08
b) Orígenes de Alexandria.........................................................09
c) Tertuliano.....................................................................09
d) Os capadócios: S. Basílio Magno, Gregório de Nissa, Gregório Nazianzeno....09
e) Santo Agostinho de Hipona......................................................10
f) São Tomás de Aquino............................................................10
1.2 OS GRANDES CONCÍLIOS A RESPEITO À SS. TRINDADE.........................11
a) O símbolo de Nicéia............................................................11
b) O símbolo de Constantinopla.........................................11
c) O símbolo do Concílio de Toledo................................................12
d) O Concílio de Éfeso............................................................12
e) O Concílio de Calcedônia.......................................................13
f) O Concílio de Florença.........................................................13
g) O IV Concílio do Latrão........................................................13
2 - DEUS PAI......................................................................14
2.1 DEUS REVELADO NA CRIAÇÃO E A FINALIDADE DA CRIAÇÃO........................14
a) O número “três” no mundo natural................................................14
b) O número “três” revelado na Sagrada Escritura.................................15
c) Deus Pai e Mãe..............................................................15
d) As três finalidades da criação.................................................16
2.2 DEUS REVELADO NA SAGRADA ESCRITURA E NA HISTÓRIA..............................16
a) O Coração de Deus..............................................................17
b) Na história do Antigo Testamento..............................................17
c) Na história do Cristianismo...................................................18
2.3 O PLANO E A VONTADE DE DEUS................................................19
a) Na família de Adão...........................................................19
b) Na família de Noé...........................................................20
c) Na família de Abraão............................................................20
d) No curso de Moisés.............................................................21


INTRODUÇÃO

O mundo de hoje está em rápida mutação passando por crises graves dos valores norteando a humanidade. O cristianismo do terceiro milênio necessita de enfrentar o grande desafio de uma reforma continua oferecendo soluções aceitáveis para todos, independente da religião, da raça ou da cultura. Esta grande tarefa foi iniciada no Concílio Vaticano II a fim de tornar a doutrina cristã mais acessível e mais compreensível, e de reviver a fé do povo de Deus.
Como podemos entender melhor a doutrina cristã se a base, o pilar central de todo o edifício é um mistério fora de lógica, de raciocínio ou de linguagem do povo? Assim o Catecismo define: “O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã” e “a fonte de todos os outros mistérios da fé”.
Vamos examinar a história do desenvolvimento da doutrina baseada na obra de Leonardo Boff: A Trindade e a Sociedade e apresentar uma sucessão de teólogos eminentes, pensadores cristãos, Santos Padres que contribuíram na edificação da doutrina. Vários Concílios definiram o Credo e consolidaram os alicerces da Igreja, começando em 325, na cidade de Nicéia até o Concílio de Florença em 1440. Os primeiros motivos de reunir os Concílios eram de combater as doutrinas consideradas heréticas, resultando na imposição de dogmas.
Seguindo a ordem da Profissão da Fé Cristã do Catecismo da Igreja Católica vamos ver como Deus Pai é revelado na Sua obra da Criação e quais são as três finalidades ou objetivos da vida que Ele deu para Adão e Eva. O atributo mais importante do Pai Celestial é o Coração de Amor incondicional para salvar seus filhos. A Sagrada Escritura registra a intervenção divina tanto diretamente quanto através dos profetas. Podemos descobrir que a história repete-se até restaurar o fundamento de fé que foi perdido por Adão e Eva. Jacó, a primeira figura central vitoriosa da história, tornou-se modelo para o curso de Moisés, que se tornou modelo para o curso de Jesus. A história da restauração ou da Salvação será prolongada até a realização completa da Vontade de Deus que depende do cumprimento da porção de responsabilidade humana. As coisas novas que forem expressas em nossas explicações devem ser entendidas como tentativas de desenvolver a fé cristã, e não para mudar o fundamento da fé cristã.
Jesus Cristo, o Messias tão esperado pelo povo escolhido, podia nascer somente após um longo processo de preparação tanto interna quanto externa. A falta de fé de João Batista e do povo Judeu impediu o plano original de herdar o trono de Davi. Conseqüentemente ele iniciou o segundo plano como está escrito em Mt 16, 21 conforme ás profecias. O Cristo morreu para perdoar nossos pecados, afirmam as Escrituras. A realização do Reino de Deus na Terra será prorrogada até os últimos dias da segunda vinda. A grande vitória da ressurreição e a manifestação do Espírito Santo inauguraram a providência da era cristã, mobilizando milhares de missionários, martírios e Santos seguindo o modelo de Jesus até nossos dias.
O Espírito Santo é o sinal de Deus atuando na comunidade, servindo como o órgão da transmissão da revelação divina ao longo da história. O Novo Testamento registrou claramente varias manifestações e dons do Espírito Santo no inicio do movimento cristão. Ele tem o papel de Mãe, atributo feminino de Deus. Atuando em relação a Jesus Cristo (na posição de Pai Espiritual) ressuscitado, o Espírito Santo como Mãe Espiritual permite o renascimento dos cristãos (na posição de filhos).
Na última parte, vamos apresentar uma proposta de solução ao mistério da Trindade, reconsiderando a natureza de Jesus Cristo: tanto Seu aspecto divino quanto humano em relação ao Adão original antes da queda. O entendimento correto da relação entre Deus Pai e Jesus Cristo Filho é fundamental para harmonizar todas as doutrinas, reconciliar as igrejas divididas e curar as magoas da história.
Desta forma, todas as igrejas cristãs, praticando o Amor pelos inimigos, transcenderão as barreiras de denominações, e cumprirão a oração de Jesus em Jo 17, 21. Seguindo a união do cristianismo, o caminho será aberto para a reconciliação com as outras crenças monoteístas como os judeus e os muçulmanos. Honra e glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Amén.

1. HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA

Até o século III poucos se preocupavam com os problemas da doutrina que se escondiam
por trás da fórmula em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo(1). Os primeiros Cristãos eram compostos de diversos grupos tolerando várias liturgias, rituais e crenças tais como os Judeus Ebionitas acreditando que Jesus, o Messias, era um homem. Os gentios que abraçaram o cristianismo enfatizaram várias crenças herdadas da filosofia grega, como o platonismo, neoplatonismo, estoicismo. Os gnósticos identificavam a matéria como mal, negando que Cristo tinha um corpo humano. Para os maniqueístas(2), Cristo era uma luz libertando a alma da escravidão do corpo, acreditando na superioridade da vida ascética solteira.
Devido às duras perseguições surgiu a necessidade de defender a Igreja, os intelectuais cristãos tinham que enfrentar três objeções: do judaísmo tradicional, da cultura grega politeísta ou filosófica e do gnosticismo. Estes homens, designados como apologistas, convertidos do Paganismo, enfrentaram um governo hostil, escrevendo para demonstrar a inocência dos cristãos e pedir a tolerância das autoridades públicas.
Os pensadores cristãos deviam esclarecer o seguinte: se Deus é uno e único por que ele apareceria como três? O que significa a afirmação: Jesus é Filho de Deus? Jesus é igual a Deus mesmo? Após muitas discussões, o Concílio de Nicéia (325) definiu solenemente que Jesus Cristo, Filho de Deus, “é da mesma substância” de Deus Pai.

1.1 TEÓLOGOS CRIADORES DA LINGUAGEM TRINITÁRIA

Houve uma formidável luta de palavras e de fórmulas além de interesses políticos,
alheios à teologia. A mente oriental ocupou-se com uma teologia especulativa e deu mais atenção aos problemas metafísicos; a mente ocidental preocupou-se mais com os desvios administrativos. Os Polemistas, como Ireneu, procuraram enfrentar o desafio das outras doutrinas ou outras interpretações, quando consideradas divergentes do ponto de vista da liderança da Igreja, outras maneiras de crer ou pensar são chamadas heresias, derivado da palavra grega háiresis, que significa escolha. Mais do que uma opinião divergente, a heresia é um confronto direto à doutrina oficial da Igreja, é como se refutasse a própria instituição(3).

a) Santo Ireneu
Santo Ireneu (c.130 - 202), Bispo de Lyon, nascido em Esmirna, é considerado como um dos maiores bispos-téologos da Igreja antiga. Sua obra, Adversus Haereses - Contra os hereges, faz frente às especulações dos gnósticos. Ele viu e ouviu o Bispo Polycarp, discípulo de São João, e escreveu cinco livros entre eles “Detectar e Derrubar o Falso Conhecimento” para refutar o gnóticismo, afirmando a “verdadeira doutrina da Igreja”(4). Na sua Demonstração da pregação apostólica escreve no primeiro artigo:
“Deus Pai incriado, invisível, um só Deus e Criador do universo... ”
No segundo artigo, baseado na introdução do evangelho de São João:
“O Verbo de Deus, o Cristo Jesus Senhor... por quem foram feitas todas as coisas;...se fez homem...”
“O Espírito Santo pelo qual os profetas profetizaram...”
Neste pequeno corpo de doutrina trinitária ele enfatiza a preexistência de Jesus: “Não somente antes de Adão, mas antes de toda a criação, o Verbo glorificava o Pai”.
S. Ireneu ensinou o aspecto da Trindade econômica que significa a ação das divinas Pessoas e a transformação da vida humana.

b) Orígenes de Alexandria
Orígenes (182-253) é considerado o maior gênio teológico do cristianismo(5). Aluno de
Clemente, grande estudioso de filosofia grega e diretor de escola, Orígenes era tão competente, que aos 18 anos foi escolhido para suceder Clemente na direção da escola. Segundo uma estimativa, ele escreveu seis mil pergaminhos de Comentários das Escrituras e de sermões. Sua maior contribuição é intitulada De Princípio, primeiro grande tratado cristão de teologia sistemática. Outra obra, Contra Celsum, é uma resposta às acusações que Celso, um platonista, fizera contra os cristãos. Um dos livros é sobre Deus e a Trindade. Deus-Pai dá origem ao Logos (Filho), ele é o primeiro a usar a palavra hipóstase (pessoa) para caracterizar os Três divinos em Deus. Por força de sua compreensão dinâmica da Trindade, há a tendência a um forte subordinacionismo: o Pai acima do Filho. Para ele a Trindade significa um eterno dinamismo de comunicação.

c) Tertuliano
Tertuliano (160-220) nasceu em Cártago no norte da África, filho de um centurião
romano, jurista e lingüista, principal criador da linguagem trinitária, é o primeiro teólogo que escreveu empregando a língua latina. Converteu-se com 37 anos de idade e tornou-se padre. Em 206 entrou no movimento montanista, grupo fundado por Montanus(6). Tertuliano foi o principal apologista ocidental, suas obras: Ad nationes e Apolegiticus negava as antigas acusações feitas contra os cristãos. Ele utilizou a palavra Trinitas (Trindade) pela primeira vez e a fórmula: “uma substancia, três personae”: uma substância em três Pessoas. Ele estabeleceu as conexões fundamentais da compreensão trinitária. Deus não é uma mônada encerrada sobre si mesma, mas uma realidade em processo constituindo uma segunda e uma terceira pessoa que fazem parte de sua substância e de sua própria ação(7).

d) Os capadócios: S. Basílio Magno, Gregório de Nissa, Gregório Nazianzeno
O grande Basílio (330-379), bispo de Caesarea, amigo de Gregório Nazianzeno (329-390)
e de seu irmão Gregório de Nissa (394), recebeu uma excelente educação em Atenas e na Constantinopla. Depois de ter visitado mosteiros no Egito, Palestina, Síria e Mesopotâmia, ele fundou seu próprio mosteiro na sua cidade natal Pontus e tornou-se o pai do monasticismo oriental, feito bispo de uma enorme região em Capadócia(8).
A grande contribuição dos capadócios está ligada à clarificação da doutrina sobre o Espírito Santo como Deus, como pessoa divina. Graças à colaboração de Gregório de Nissa e de Gregório Nanzianzeno tiraram-se todas as dúvidas com a definição: “Creio no Espírito Santo, Senhor e vivificador, que procede do Pai, que é juntamente adorado e glorificado com o Pai e com o Filho e que falou pelos profetas”(9).

e) Santo Agostinho de Hipona
Agostinho (354-430) nasceu na África do Norte, no Império Romano; sua mãe, Mônica,
era cristã devota. Apesar de ter recebido uma educação cristã, caiu no pecado com uma mulher e teve um filho quando tinha dezoito anos. Quando morava em Cártago foi convertido ao maniqueísmo e buscou a salvação na castidade e continência. Questionou sobre a raiz do mal e sobre a essência da existência. Era mestre em filosofia grega e romana, retórica, literatura, música e matemática. Mudou-se para Milão onde conheceu Santo Ambrósio e resolveu abraçar o Cristianismo.
Agostinho se dedicou a escrever muitas obras, as Confissões, uma autobiografia onde ele conta a história de seu coração. Cartas de correspondência, livros de filosofia, A Cidade de Deus, onde ele responde aos pagãos, as controvérsias contra os maniqueístas, os donatistas(10), os pelegianos(11) e o arianismo(12), livros de exegese, de dogmática, empenhou muitos anos na produção De Trinitate, em quinze livros e deixou numerosos sermões.
Sua doutrina é fonte de inspiração até hoje. Para elucidar a unidade na trindade e a trindade na unidade, Agostinho elaborou duas famosas analogias: espírito, conhecimento e amor ou memória, inteligência e vontade. Cada um dos termos contém os outros, os três são a própria alma humana, são uma imagem da unidade e da distinção como é a Trindade.
As três Pessoas são para Agostinho três sujeitos respectivos e estão relacionados um ao outro. Ele aprofundou o conceito de pessoas, cada Pessoa Divina como sendo Pessoa no seu modo próprio: “Vês a Trindade se vires a caridade, é a prática do amor que abre o verdadeiro acesso ao mistério da trindade”(13).

f) São Tomás de Aquino
Tomás de Aquino (1225-1274) conhecido como “Doutor Angélico”, veio de família
nobre, e foi educado na Universidade de Nápoles, fazendo-se monge dominicano. Ele se dedicou à filosofia de Aristóteles e se tornou o principal pensador escolástico a crer que o homem poderia alcançar verdades como a existência de Deus e a imortalidade através do uso da razão e da lógica aristotélica(14). Ele completou a obra de S. Agostinho criando um sistema trinitário altamente lógico. Tomás define exatamente as Pessoas divinas como relações subsistentes. As Pessoas divinas são Subsistentes permanentes e eternamente relacionados, constituindo um único Deus ou a única natureza divina. Ele plenificou a dinâmica especulativa, permanecendo no Ocidente como o grande teólogo sistemático do mistério trinitário(15).

1.2 OS GRANDES CONCÍLIOS A RESPEITO DA SS. TRINDADE

A formulação da doutrina trinitária exigiu cerca de 150 anos de reflexão, confusão,
disputa e clarificação das palavras técnicas para chegar a definir Cristo, Filho de Deus consubstancial ao Pai. A fé dogmática(16) sobre a Trindade foi consagrada pelos grandes Concílios, dentre os muitos pronunciamentos oficiais do Magistério dos Concílios Ecumênicos ou dos Papas, vamos destacar os principais.

a) O símbolo de Nicéia
Em 19 de junho de 325 o Imperador Constantino convocou para a pequena cidade de
Nicéia (atual Iznik, na Turquia) 318 bispos para participar do primeiro grande encontro ecumênico da cristandade – o Concílio de Nicéia. Constantino era preocupado pela controvérsia Ariana, que ocorreu em Alexandria, Ário afirmava que Jesus era um homem, criatura de natureza divina, subordinado a Deus Pai e não existia antes de nascer. De todos os presentes, 292 bispos condenaram a interpretação de Ário, sob a liderança de Atanásio que defendeu a idéia de que Cristo existiu desde a eternidade com o Pai e era de mesma essência (homoousios) e co-igual com o Pai. A fórmula que abriu o caminho para uma concepção trinitária de Deus foi definida pelos padres conciliares da seguinte forma(17):

“Cremos em um só Deus Pai onipotente, criador... e em um só Senhor Jesus Cristo Filho de Deus, nascido unigênito do Pai, isto é da substância do Pai, Deus de Deus,... engendrado, não feito, consubstancial ao Pai (em grego homooúsion),.... e por nossa salvação desceu do céu e se encarnou, se fez homem, padeceu, e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, e há de vir para julgar os vivos e os mortos. E no Espírito Santo”.

O essencial da doutrina da Trindade foi enunciado, Pai, Filho e Espírito e foi definida a relação entre o Pai e o Filho: são da mesma substância. Não foi precisado nada sobre o Espírito Santo.

b) O símbolo de Constantinopla
O que foi começado em Nicéia explicitou plenamente o Concílio ecumênico de Constantinopla que reuniu 186 bispos em maio de 381, convocados pelo Imperador Teodósio: o Espírito Santo é da mesma natureza do Pai e do Filho, e é, portanto Deus. As idéias de Macedônio, bispo de Constantinopla de 341 a 360, foram condenadas, ele ensinava que o Espírito Santo era uma criatura subordinada ao Pai e ao Filho. Foi acrescentado no Credo o seguinte: “E no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai, que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, falou pelos profetas”.
Neste Credo indica-se com toda a clareza o que é três em Deus: Pai, Filho e Espírito Santo; expressa-se a unidade de substância entre os três, apenas se dizendo-se que o Espírito Santo procede do Pai(18).
Apolinário (c. 310-c. 390) bispo de Laodicéia era um bom amigo de Atanásio e um dos campeões da ortodoxia, ele formulou uma doutrina sobre as duas naturezas humana e divina de Cristo, ele exaltava a divindade de Cristo, mas minimizava Sua verdadeira humanidade. Sua doutrina foi oficialmente condenada no Concílio de Constantinopla.
No final do Concílio, Teodósio publicou um decreto declarando que as igrejas deveriam ser restauradas para os bispos confessando a igual Divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo e que mantiverem a comunhão com Nectarius de Constantinopla(19).

c) O símbolo do Concílio de Toledo
O símbolo niceno-constantinopolitano quando se refere ao Espírito Santo diz que Ele procede do Pai sem citar o Filho(20). O texto do I Concílio de Toledo do ano 400 reza assim: “Existe também o Espírito Paráclito, que não é nem o Pai nem o Filho, senão procede do Pai e do Filho.”
No III Concílio de Toledo em 589 o rei Recaredo, recém-convertido do arianismo, ordena intercalar a nova fórmula do Filioque (e do Filho) no símbolo niceno-constantinopolitano. O texto diz:

“O Espírito Santo é igualmente professado e pregado por nós como procedendo do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho possui a mesma substância; portanto, a terceira pessoa da Trindade é o Espírito Santo que possui também com o Pai e o Filho a essência da divindade”.

A fórmula se divulgou por toda a Igreja latina até 1014. Por ocasião da coroação de Henrique II pelo Papa Bento VIII em Roma, o Credo foi cantado com a interpolação do Filioque na basílica de São Pedro.
Os orientais consideraram um ato cismático modificar o texto sagrado do Credo comum, ainda mais que o Concílio de Efeso (431) havia condenado como anátema quem professasse “uma outra fé”, diferente daquela do Concílio de Nicéia. O Concílio de Calcedônia (451) renovara a mesma sanção. Esta questão do Filioque levou a um doloroso cisma em 1054 quando o legado papal Humberto depositou sobre o altar da Santa Sofia em Bizância seu documento acusando os gregos de haverem suprimido o Filioque do Credo!

d) O Concílio de Éfeso
Os líderes da Igreja reuniram-se em Éfeso em 431, para condenar a doutrina de Nestório, um monge erudito que se tornou patriarca de Constantinopla em 428. Ele era acusado de heresia pelo Patriarca de Alexandria. Ele rejeitava o uso do termo theotokos (mãe de Deus) aplicado à Virgem Maria, e sugeriu a palavra Christotokos como alternativa, lembrando que Maria foi apenas a mãe do lado humano de Cristo. Ele acreditava que Cristo era um homem perfeito moralmente associado à divindade. Os seguidores de Nestório continuaram seu trabalho e levaram o Evangelho à Pérsia, Índia e China(21).

e) O Concílio de Calcedônia
O IV Concílio Ecumênico de Calcedônia, uma cidade de Bithynia em Ásia Menor, reunido em 451, tinha como propósito principal de responder a doutrina de Eutiques (c. 378- c. 455). Ele era um monge em Constantinopla que ensinava que após a Encarnação, as naturezas de Cristo, a humana e a divina, se fundiram numa só, a divina. Esta doutrina negava a verdadeira humanidade de Cristo. Foi condenada por Leão I, o bispo de Roma de 440 a 461, e pelo Concílio de Calcedônia que promulgou que Cristo era completo em sua divindade e completo em sua humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, tendo duas naturezas sem separação(22).

f) O Concílio de Florença
O Concílio de Florença (de 1431 a 1447) formulou um texto de conciliação dogmático entre a concepção ocidental do Filioque e aquela clássica dos gregos:

“...com a aprovação deste concílio universal de Florença, definimos que por todos os cristãos seja crida e recebida esta verdade de fé e assim todos professem que o Espírito Santo procede eternamente do Pai e do Filho, e do Pai juntamente e do Filho tem sua essência e seu ser subsistente, e de um e de outro procede eternamente como um só princípio, e por uma única espiração; declaramos ainda que o que os santos Doutores e os Padres dizem, que o Espírito procede do Pai pelo e através do Filho, tende a esta compreensão, para significar através disso que também o Filho é, segundo os gregos, causa e segundo os latinos, princípio da subsistência do Espírito Santo, como também o Pai... Definimos além disso que a adição das palavras Filioque (e do Filho), foi lícita e razoavelmente posta no Símbolo por declarar a verdade e por necessidade urgente daquele tempo”.

As expressões: o Espírito Santo procede do Pai e do Filho (latinos) e o Espírito Santo procede do Pai pelo (através do) Filho (gregos) podem perfeitamente dizer a mesma coisa(23).
O Concílio de Florença em seu Decreto aos Jacobitas (coptas e etíopes) no ano de 1442 expressou a comunhão entre as divinas Pessoas, trata-se da pericórese (termo grego que significa a comunhão trinitária): assim o Pai, o Filho e o Espírito Santo não são três princípios da criação, mas um só princípio. Ninguém precede o outro na eternidade, ou excede em grandeza, ou se sobrepõe em poder.

g) O IV Concílio do Latrão

O IV concílio do Latrão celebrado em 1215 sob a presidência do Papa Inocêncio III, trata de dois textos, um contra os valdenses e albigenses(24) e outro contra o abade Joaquim de Fiore. Nas duas formulações encontramos a expressão clássica do dogma trinitário: uma natureza única e três Pessoas distintas; a distinção das Pessoas entre si se estabelece a partir de sua origem: o Pai sem origem, o Filho do Pai e o Espírito Santo do Pai e do Filho. O pronunciamento do Concílio equilibra a Trindade imanente (as Pessoas em si mesmas) com a Trindade econômica (sua ação na história).

2. DEUS PAI

Ao longo da história, muitas têm sido as representações e definições de Deus, de acordo com cada cultura. O Ser infinito, eterno e perfeito, criador do universo. A crença no Deus único foi introduzida por Abraão, o primeiro dos patriarcas bíblicos, modelo de fé para judeus, cristãos e muçulmanos. Ele acreditou em Javé, o Deus invisível e onipresente, sua história aparece no Gênesis, no Talmude e no Corão. Os judeus não pronunciam seu nome, por ser sagrado, e os muçulmanos não podem representá-lo porque está além de nossa compreensão. No imaginário cristão, Deus foi representado com a figura de um velho sábio em pinturas de igrejas do mundo todo(25). A visão de Deus Pai apareceu ao longo da história dos hebreus. Israel entendeu, graças a seus profetas que foi por amor que Deus não deixou de salvá-lo e de perdoar-lhe sua infidelidade e seus pecados. O amor de Deus por Israel é comparado ao amor de um pai por seu filho(26).
Pode-se falar de muitas maneiras de Deus como Pai, Deus é considerado Pai por ter criado o universo, refletiremos sobre as perfeições invisíveis de Deus que podem ser contempladas, através da inteligência, nas obras que ele realizou. (Rm 1, 20) O que é o projeto de Deus? Sua divina providência? A responsabilidade que Ele confiou para a humanidade de “submeter” e “dominar” a terra?
Como Deus se revela nas escrituras sagradas, no Antigo Testamento, no Novo Testamento através de Jesus Cristo, do Espírito Santo, das religiões do mundo e dos acontecimentos históricos?

2.1 DEUS REVELADO NA CRIAÇÃO E A FINALIDADE DA CRIAÇÃO

O homem que procura a Deus descobre certas “vias” para aceder ao conhecimento de Deus. O ponto de partida é a criação: o mundo material e a pessoa humana. Observando a ordem e a beleza do mundo criado, pode-se conhecer a Deus como origem e a causa do universo como São Paulo afirma: “A realidade invisível é manifestada através das criaturas”. E Sto. Agostinho: “Interroga a beleza da terra, do mar, do ar, do céu... todas estas realidades. Todas elas te respondem: olha-nos, somos belas. Sua beleza é um hino de louvor... Quem as fez senão o Belo”(27).

a) O número “três” no mundo natural
Lemos no Capítulo 1 do Gênesis a história da criação do universo, na qual se descreve cada dia(28) da criação: “Houve uma tarde (podemos compreender que desde a tarde até a manhã seguinte passou-se uma noite) e uma manhã: foi o primeiro dia” Gn 1, 5. Podemos deduzir que todos os seis períodos do universo foram completados depois de três estágios de tempo. Todo ser é criado passando através do número “três” em sua existência e crescimento. (simbolizado pela tarde, noite e manhã)(29). Por exemplo: a matéria existe em três estados: gasoso, líquido e sólido; a planta é basicamente formada de três partes: a raiz, o tronco e as folhas; o animal é formado de cabeça, tronco e membros; o mundo natural é formado de minerais, plantas e animais; as três cores fundamentais: o vermelho, o azul e o amarelo; três energias fundamentais: a gravitacional, a eletromagnética e a atômica; os três arcanjos: Lúcifer, Gabriel e Miguel; as três funções da mente humana: intelecto, emoção e vontade; os três estágios de crescimento: infância, adolescência e fase adulta; os três estágios da vida: na barriga da mãe, na terra e no mundo espiritual...etc; então o número “três” é universalmente presente no mundo criado simbolizando a realidade do Deus tri-uno, e conseqüentemente apareceu ao longo da história a doutrina da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.

b) O número “três” revelado na Sagrada Escritura
Os primeiros pais da humanidade deviam passar através dos três estágios de formação, crescimento e aperfeiçoamento, mais caíram antes, no estado de imaturidade. Por isso na providência da restauração, Deus tem trabalhado para restaurar o número três. Como conseqüências, há muitas passagens na Bíblia usando o número “três”, que deve ser restaurado pelos descendentes de Adão e Eva, escolhidos na providência divina: os três andares da arca de Noé, os três vôos do pombinho da arca, as três ofertas de Abraão, os três dias antes da oferta de Isaac, os três dias de calamidade durante o período de Moisés, o período de três dias na preparação para o êxodo, os três períodos de quarenta anos para a restauração de Canaã, o período de três dias de Josué antes do cruzamento do Jordão, trinta anos de vida particular e três anos de ministério público de Jesus, os três magos do Oriente com suas três dádivas, os três discípulos maiores de Jesus, as três tentações de Jesus, as três orações no Getsêmani, as três negações de Pedro, a escuridão de três horas durante a crucifixão e a ressurreição de Jesus depois de três dias.

c) Deus Pai e Mãe
Gênesis 1, 27 diz: “E Deus criou o homem à Sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher”. Isto nos explica que Deus, a Causa invisível é um sujeito masculino e feminino como Pai e Mãe, e que Ele criou seu filho Adão (masculino) e sua filha Eva (feminino) a sua imagem, esta visão foi colocada como Deus Pai e Deus Mãe no livro do teólogo Boff, mas na história do cristianismo predominou a imagem masculina que impediu que as mulheres pudessem até hoje expressar sua experiência religiosa(30).
Podemos dizer, sem ferir a compreensão dogmática, que o Pai... pode também ser chamado de Mãe. Então melhor diríamos, para sermos fiéis às insinuações da linguagem bíblica que apresenta Deus tanto sob os traços paternos quanto sob os traços maternos, que (Deus) é Pai ... e Mãe.
“Como uma mãe consola o filho, assim eu vos consolarei”. (Is 66, 13) O Pai de Jesus somente é Pai se for também Mãe. Nele se encontram reunidos o vigor do amor paterno e a ternura do amor materno. O Pai e a Mãe celestes. Em comunhão com o Pai e a Mãe eternos, superam-se as divisões; inaugura-se o Reino da confiança dos filhos e filhas, membros da família divina.

d) As três finalidades da criação
Quando Deus criou Adão e Eva, deu-lhes as três grandes bênçãos: “Sejam fecundos,
multipliquem-se, encham e submetam a terra; dominem os peixes do mar, as aves do céu, e todos os seres vivos que rastejam sobre a terra”. (Gn 1, 28)
A primeira bênção que Deus deu para Adão e Eva, sejam fecundos no sentido de crescer está escrita em Ez 36, 11: “Eles crescerão e serão fecundos”. Os primeiros pais da humanidade no Jardim do Éden eram criados na inocência, não existia o mal, nem o pecado, colocados em um ambiente perfeito e tinham a responsabilidade de crescer até a perfeição obedecendo ao mandamento de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, e a não observação deste mandamento era o castigo da pena de morte(31).
Se Eva e Adão tivessem cumprido suas responsabilidades obedecendo ao mandamento, crescendo e aperfeiçoando suas respectivas individualidades, eles deveriam tornar-se marido e mulher e multiplicar-se pela procriação de filhos sem pecado, e realizar a segunda bênção de Deus, que era a realização de um casamento abençoado de acordo como a vontade divina original e ficar dentro do Jardim ou Paraíso.
A terceira benção é dominar e transformar o universo, participando da obra da criação, desfrutando de todas as coisas maravilhosas que Deus criou para a alegria e felicidade do homem vivendo no Paraíso na terra, o mundo ideal de paz em outras palavras, o Reino do Céu ou Reino de Deus na Terra. Se a Queda não tivesse acontecido, o mundo inteiro seria o Reino do Céu aonde alegria, harmonia e justiça teriam prevalecido. Isto era este mundo cujo Jesus chamava de Reino de Deus.
Eis uma verdade fundamental que a Escritura e a Tradição não cessam de ensinar e de celebrar “O mundo foi criado para a glória de Deus” e nossa felicidade(32) que também é fonte de alegria para Deus olhando seus filhos feliz.

2.2 DEUS REVELADO NA SAGRADA ESCRITURA E NA HISTÓRIA

“Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor!” (Dt 6, 4) Deus se revelou a seu povo eleito, por meio dos profetas, Ele chama Israel e todas as nações a se voltarem para Ele, o Único: “Voltai-vos para mim e sereis salvos, todos os confins da terra, porque eu sou Deus e não há nenhum outro!...(Is 45, 22). Deus se revelou progressivamente a seu povo, Ele disse a Moisés: “Eu sou Aquele que é” (Ex 3, 13), Aquele que é “rico em amor e em fidelidade” (Ex 34, 6). Em todas as suas obras Deus mostra sua benevolência, bondade, graça, amor, confiabilidade, constância, fidelidade e verdade. “Celebro teu nome por teu amor e verdade” (Sl 138, 2). “Eu te amei com um amor eterno, por isso conservei por ti o amor”. (Jr 31, 3) Mas S. João irá mais longe ao afirmar: “Deus é Amor” (1Jo 4,8); o próprio Ser de Deus é Amor(33).

a) O Coração de Deus
Deus não é simplesmente o Criador todo poderoso, onisciente, mestre, juiz, causa das leis naturais, da energia, da ordem ou das forças cósmicas, todas estas palavras representam um atributo a respeito de Deus, a mais importante característica de Deus é o Coração Divino como foi dito acima, nosso Pai e nossa Mãe do Céu. Por esta razão no Novo Testamento o amor está acima das virtudes, e mais alto que a fé. Se o coração simboliza o centro mais profundo da personalidade humana, então Deus dever ser visto do mesmo modo.
No Antigo Testamento, Deus se arrependeu de ter feito o homem quando Ele viu a maldade que havia se multiplicado na terra no tempo de Noé. (Gn 6, 6) Deus se arrependeu de ter feito Saul rei porque ele se afastou e não executou as ordens. (1Sm 15, 11) O Coração de Deus é tocado e muda Seus planos quando Abraão intercede pelos homens. (Gn 18, 22-33) Moisés suplicou Deus e depois Ele se arrependeu do castigo o qual havia ameaçado o povo. (Ex 32, 7-14) Quando Jonas pregou em Nínive e os ninivitas creram em Deus, convertendo-se de sua má conduta; então Ele desistiu do mal com o qual os tinha ameaçado, e não o executou. (Jn 3, 3-10)
O Coração de Deus, Sua angustia e alegria de pais, estão expressados dramaticamente e delicadamente nas parábolas do filho pródigo, (Lc 15, 11-32) o bom samaritano, (Lc 10, 30-37) a ovelha perdida, (Mt 18, 12-14) a moeda perdida, (Lc 15, 8-10) a viúva persistente (o juiz injusto). (Lc 18, 1-8) Então podemos encontrar o Coração de Deus revelado através dos ensinamentos de Jesus. Ele teve uma experiência extremamente íntima com Deus; chamando-o com pelo nome Abba que significa “o meu querido paizinho”(34).

b) Na história do Antigo Testamento

O próprio Deus age, inova, abre caminhos novos na história, o projeto divino da revelação realiza-se ao mesmo tempo por ações e por palavras, este projeto comporta uma “pedagogia divina” peculiar: Deus comunica-se gradualmente com o homem, prepara-o por etapas que vai culminar na vinda do Cristo(35). Como não podemos relatar todas as manifestações da revelação divina ao longo da história do Antigo testamento, vamos apenas mencionar algumas das principais figuras centrais que Deus escolheu para cumprir o trabalho da providência de salvação registrada na Bíblia Sagrada.
Deus tencionava para Adão e Eva, o primeiro casal da humanidade de alcançar a felicidade eterna no Jardim de Éden, deu três benções (Gn 1, 28) para ser cumpridas obedecendo ao mandamento, estabelecendo um “fundamento de fé”. Se a finalidade da criação de Deus tivesse sido assim realizada, teria sido estabelecido nesta terra o mundo ideal. O homem foi criado para viver no Reino do Céu na Terra. Neste caso, o pecado e o mal nunca existiriam e a história da salvação não teria sido necessária.
Infelizmente, o pecado entrou no primeiro casal da história humana, o Gênesis relata sobre a queda, que é a destruição do plano original de Deus, devido a qual Eva e Adão foram expulsos do Paraíso (Gn 3, 24) para se tornarem filhos de Satanás (Jo 8, 44), necessitando o plano de Salvação. A narrativa bíblica indica que Caim e Abel oferecem sacrifícios (Gn 4, 4), mas Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitando a oferta de Caim, Deus queria que Caim ofertasse o sacrifício através de Abel, mas Caim matou seu irmão.
Depois de muitas gerações, Deus vai fazer Aliança com Noé, para tentar restaurar o “fundamento de fé” que foi perdido por Adão; apesar de Noé ter obedecido a Deus e ter conseguido a ofertar a arca, lemos em (Gn 9, 20 – 26) que o filho Cam se envergonhou e foi amaldiçoado pelo pai. Então, Cam falhou e a providência da família de Noé terminou em fracasso.
Depois de dez gerações, Deus elege Abrão, para torna-lo em Abraão. Ele vai falhar na primeira oferta, mas ele vai restaurar o “fundamento de fé” ofertando o filho Isaac, com fé absoluta, a ponto de imolar seu filho. (Gn 22, 12) Ele restaurou a falha de Eva e Adão de não obedecer ao mandamento. Isaac com a sua cooperação também restaurou o “fundamento de fé”, não precisando ser imolado, e Deus providenciou um cordeiro em lugar do filho. (Gn 22, 13)
Jacó que foi chamado estando ainda no ventre de sua mãe, estava na posição de Abel e Esaú na posição de Caim, representando o conflito entre o bem e o mal. (Gn 25, 22-23) Esaú amou e recebeu bem Jacó (Gn 33, 4), desta maneira puderam restaurar as falhas de Caim e Abel, na família de Adão, e as de Sem e Cam, na família de Noé. Assim, Jacó foi o primeiro da história da Salvação a triunfar, ele foi reconhecido por Deus e ganhou o nome de “Israel” (Gn 32, 25-28). Assim pôde construir a base para a formação da nação escolhida. Jacó estabeleceu com êxito o padrão de subjugação de Satanás, que serviria depois para Moisés e Jesus.
Um estudo comparado do curso Jacó, Moisés e Jesus mostra a presença divina atrás da história da salvação, por exemplo: Jacó teve 12 filhos e 70 membros em sua família, Moisés teve 12 tribos e tinha 70 anciãos e Jesus 12 apóstolos e 70 discípulos.
Deus falou diretamente com Moisés no meio da sarça ardente, e disse a Moisés: “Eu sou aquele que sou” (Ex 3, 14), Ele escolheu Moisés como chefe para libertar o povo escolhido da escravidão do Egito. Assim, Ele douo o poder das pragas, abriu o caminho do Mar Vermelho, mandou o maná e as codornizes, deu água no meio do deserto na rocha de Refidim. Deus também falou com Moisés no monte Sinai que recebeu os dez mandamentos, renovando a aliança com Israel (Ex 24, 8), mandou fazer um santuário móvel, uma arca, um propiciatório, uma mesa, um candelabro, um tabernáculo e um altar.
O personagem de Moisés inspirou os Padres da Igreja, e ele é considerado como um profeta, aquele que através de toda sua vida e sua obra anunciou o Messias Jesus-Cristo(36). “Porque, se de fato crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito”.(Jo 5, 46)

c) Na história do Cristianismo
Muito claramente podemos reconhecer a ação de Deus manifestada ao longo da história
do Antigo Testamento, e de uma maneira indireta podemos também perceber a intervenção divina continuando na história do cristianismo até hoje.
Depois da crucifixão de Jesus, quase todos os seguidores seguiram pelo caminho da cruz sofrendo perseguições às vezes até a morte, até que Deus, através do Espírito Santo inspirou o Imperador Constantino a reconhecer publicamente o Cristianismo. Em 392 d.C., Teodócio I declarou o Cristianismo como sendo a religião do Estado, encerrando quase 400 anos de perseguições durante o Império Romano. Este é um período de tempo que podemos comparar ao período de 400 anos de escravidão dos israelitas no Egito.
Depois de aproximadamente 400 anos de sistema patriarcal, Deus inspirou a coroação do Imperador Carlos Magno em 800 d.C. que é um período correspondente aos 400 anos dos Juízes que encerrou com a unção de Saul, primeiro rei de Israel.
O Reino Cristão de Carlos Magno abrangeu, quase 120 anos continuando através do filho e do neto, um período correspondente de 120 anos, desde o rei Saul, do filho rei Davi e do neto rei Salomão. Por conseguinte, não é por acaso, mas freqüentemente notamos que certo curso histórico, semelhante ao de uma idade passada, se repete. Os historiadores até hoje nunca explicaram a causa disto, mas podemos deduzir que Deus está dirigindo a história de acordo com a sua vontade para restaurar as falhas do passado.
O Reino Cristão foi dividido durante 400 anos em Leste e Oeste enquanto o Reino Unido de Israel dividiu-se em Norte e Sul. Os judeus foram levados cativos para a Babilônia durante 70 anos, na história cristã, enquanto os papas viveram como prisioneiros durante 70 anos em Avignon, no sul da França. Malaquias suscitou um movimento de reforma depois da volta de Babilônia, da mesma maneira que os cristãos medievais, depois da volta papal em Roma iniciaram uma reforma centralizada em Lutero.

2.3 O PLANO E A VONTADE DE DEUS

a) Na família de Adão
A criação tem sua bondade e sua perfeição como está escrita na Gênesis 1, 31 “Viu Deus tudo o que havia feito, e tudo era muito bom.” Inclusive Deus criou o homem e a mulher “em estado de caminhada” (“in statu viae”) para uma perfeição última a ser atingida, para qual Deus os destinou. Deus conduz sua criação para esta perfeição através da realização de seu projeto da divina providência(37).
O homem e a mulher criados como filhos ainda no estado de imaturidade eram responsáveis por seguir o plano e a vontade de Deus criador e Pai exprimida no mandamento: “não comerás” (Gn 2, 17), Se Adão e Eva tivessem obedecido, certamente eles não teriam morrido, ou seja não teriam caído no pecado, e o mal não teria entrado na história humana. A árvore do conhecimento do bem e do mal teria sido somente a árvore do conhecimento do bem, que teria multiplicado somente os filhos do bem sem pecado, de acordo como a bênção de Deus. Adão e Eva teriam se tornado a imagem divina perfeita, verdadeiros pais e antepassados do bem, morando no jardim do Éden, e teriam estabelecido desde o inicio da história o Reino de Deus. O primeiro plano teria sido cumprido através do primeiro Adão, e a história de salvação e de preparação para a vinda do segundo Adão, Jesus-Cristo, não teria acontecido.
A queda do homem que foi um ato ilícito de Eva e Adão de “comer” e cair no pecado era contrário ao plano e a vontade de Deus, a conseqüência foi a morte espiritual, ou seja, a separação devido ao mal. Deus, que é absolutamente bom não pode ter nenhum relacionamento direto com sua criatura corrompida, então os filhos de Deus espiritualmente mortos foram expulsos do paraíso ou jardim do Éden que é o Reino de Deus.
Imediatamente depois que aconteceu a queda do homem, Deus iniciou o plano da providência da salvação que é também a providência da restauração do Ideal perdido no Jardim do Éden.
No primeiro passo que era para os filhos Caim e Abel de fazer ofertas ao Senhor Deus, Abel foi escolhido para representar o lado do bem, então Caim, que herdou a natureza decaída devia oferecer sua oferta através de Abel, e não podia oferecer diretamente “se você agisse bem, não é certa que serás aceito?” (Gn 4, 7) O plano e a vontade de Deus era para Caim humildemente seguir o modelo de Abel, superando o desejo de ficar bravo a ponto de querer matar seu irmão.

b) Na família de Noé
Deus renovou a aliança com Noé, que completou o “fundamento de fé” oferecendo a arca de uma maneira aceitável a Deus. Logo, se os filhos de Noé, Sem e Cam tivessem herdado a fé do pai que trabalhou duro durante 120 anos, mostrando união e respeito para com ele, a bênção teria sido realizada dentre da família de Noé.
Lemos em Gn 7, 25 que Noé amaldiçoou seu filho Cam devido o ato de se envergonhar da nudez de seu pai que tornou-se um pecado. Assim, Cam falhou em restaurar a posição de Abel, ele não confiou em seu pai que estava do lado de Deus, mas criticou-o de uma maneira egocêntrica, por isso a providência da família de Noé terminou em fracasso.
O plano e a vontade de Deus era, que Cam herdasse a fé de seu pai demonstrando respeito e admiração, sem julgar de um ponto de visto pessoal seu pai, que dedicou sua vida fazendo a vontade divina. Deus queria fazer um novo início para a humanidade centralizado na família de Noé, que foi escolhida depois de 1600 anos, para restaurar a falha da família de Adão.

c) Na família de Abraão
Deus chamou Abrão e renovou a bênção que tinha feito para Adão e Noé. (Gn 12, 2)
Assim que Noé estabeleceu sua fé oferecendo a arca, Deus ordenou que Abraão oferecesse os sacrifícios de um pombinho, um cordeiro e um novilha (Gn 15, 9). Lemos em Genesis 15, 10-13 que Abraão dividiu as ofertas pelo meio e pôs cada metade em frente da outra, mas não dividiu as aves pelo meio. Então, aves de rapina desceram sobre os corpos mortos e Abraão as enxotou. Deus apareceu a Abraão naquele tarde, ao pôr do sol, e lhe disse: “Saiba com certeza que seus descendentes viverão como estrangeiros numa terra que não será a deles. Aí nessa terra eles ficarão como escravos e serão oprimidos durante quatrocentos anos...”(Gn 15, 13)
Porque o fato de Abraão não ter dividido no meio as aves, teve como efeito o sofrimento dos israelitas por 400 anos de escravidão no Egito? Pois isto era análogo a não ter separado Caim e Abel, não havendo objeto de tipo Abel que Deus pudesse tomar. O sacrifício era inaceitável a Deus, pois aquilo representava nenhuma separação do bem do mal. Assim o pombo permaneceu na posse de Satanás, e o ato de não ter dividido o pombo pelo meio tornou-se um pecado. Deus estabeleceu um período de 400 anos para restaurar as dez gerações depois de Noé até Abraão, que foram invadidas por Satanás; e assim Deus tinha que estabelecer novamente um período de 400 anos para a separação de Satanás.
O plano e a vontade de Deus era que Abraão cortasse as aves pelo meio, a fim de estabelecer um sacrifício aceitável perante Deus. Depois da falha de Abraão na oferta simbólica, Deus ordenou que ele oferecesse seu filho Isaac em holocausto (Gn 22, 2) para restaurar por indenização esta falha. A lealdade de Abraão unida à de Isaac produziu o êxito da oferta de Isaac, possibilitando a restauração por indenização de sua posição antes de sua falha na oferta, separando a si mesmo de Satanás.
Esaú e Jacó lutaram, ainda no ventre da mãe (Gn 25, 22-23), porque estavam nas situações conflitantes de Caim e Abel, que tinham sido separados como os representantes do mal e do bem respectivamente. Jacó, que tinha a missão de restaurar a primogenitura de seu irmão mais velho, sabiamente tomou a primogenitura de seu irmão Esaú com um pouco de pão e uma sopa de lentilhas (Gn 25, 34). Deus fez com que Isaac abençoasse Jacó, porque ele procurava restaurar a primogenitura reconhecendo seu valor (Gn 27, 27). Jacó foi para Harã e lutou durante 21 anos de trabalho penoso; na volta, lutou contra o anjo no vau do Jaboque, venceu e se tornou a figura central, na posição de Abel, abençoado por Deus, ganhando o nome de “Israel”. Esaú, de fato amou e recebeu bem Jacó (Gn 33, 4) e, assim puderam estabelecer, pela primeira vez na história, a condição de indenização para eliminar a natureza decaída(38), aquilo que Caim e Abel, na família de Adão, e Sem e Cam, na família de Noé, tinham falhado em realizar.
Abraão, que foi a terceira figura central escolhida na história da providência divina para restaurar o fundamento para preparar a vinda do Messias, foi utilizado e chamado por Deus uma segunda vez apesar de ter falhado na primeira oferta, e assim a vontade de Deus foi prolongada até Isaac e depois prolongada até Jacó. Por isso Abraão, Isaac e Jacó formam todos um só corpo do ponto de vista da Vontade, embora fossem diferentes indivíduos. A passagem bíblica em que Deus disse: “Eu sou o Deus de seu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó” (Ex 3, 6), mostra que essas três gerações são como se fossem uma só, que realizaram um só propósito divino, em esforços conjuntos.

d) No curso de Moisés
Moisés estava na posição de Deus; logo, Deus lhe disse que ele devia ser como Deus para Araão em Êxodo 4, 15: “Eu estarei na sua boca e na dele, e ensinarei a vocês o que deverão fazer”. “Então, disse o SENHOR a Moisés: Eis que te tenho posto por Deus sobre Faraó; e Arão, teu irmão, será o teu profeta” (Ex 7, 1)(39).
Moisés foi o modelo para Jesus que devia vir no futuro, como a Bíblia disse: “Do meio dos irmãos deles, eu farei surgir para eles um profeta como você. Vou colocar minhas palavras em sua boca, e ele dirá para eles tudo o que eu lhe mandar”. (Dt 18, 18-19)
Depois de passar 40 anos no palácio do Faraó, Moisés iniciou sua missão de líder dos israelitas: vendo seus irmãos sendo maltratados pelo egípcio, não pode conter a sua raiva, e matou o egípcio (Ex 2, 12). Se os israelitas tivessem considerado Moisés como um patriota, confiando, servindo, e seguindo-o, como um eleito de Deus, o povo teria entrado na terra de Canaã pelo caminho direto dos filisteus, sem ter que cruzar o Mar Vermelho, viajando apenas por 21 dias para chegar lá. No entanto devido à desconfiança dos israelitas este curso foi anulado, embora Deus desejava levar o povo pelo caminho mais curto como está escrito: “Deus não o guiou pelo caminho da Palestina, que é o mais curto, porque Deus achou que, diante dos ataques, o povo se arrependeria e voltaria para o Egito. 18 Então Deus fez o povo dar uma volta pelo deserto até o mar Vermelho” (Ex 13, 17- 18)
Contudo, quando viram Moisés matar o egípcio, entenderam-no mal, e a crítica espalhou-se rapidamente, então o Primeiro “Curso”(40) planejado por Deus falhou, e Moisés se viu obrigado a fugir e retirando-se para o deserto de Midiã por 40 anos a fim de iniciar um Segundo Curso. Desta vez, Deus deu-lhe os três sinais e as dez pragas, levando o povo a acreditar, obedecer e iniciar a jornada rumo a Canaã. O curso previsto depois de ter cruzado o Mar Vermelho e atravessado o deserto, era de 21 meses.
Deus chamou Moisés ao alto do Monte Sinai, e deu-lhe os dez mandamentos escritos nas tábuas de pedra (Êx 24, 18), assim como as instruções acerca da arca e do tabernáculo. (Êx 25, 31) A Bíblia representa Jesus como um pedra branca (Ap 2, 17) e diz também que a rocha era Cristo (I Co 10, 4), podemos comparar as duas tábuas de pedra como símbolo de Jesus e do Espírito Santo, que viriam mais tarde como a encarnação da palavra. Jesus comparou o templo de Jerusalém a seu corpo (Jo 2, 21) e o tabernáculo que era uma prefiguração do templo era uma representação simbólica ou imagem do próprio Jesus, um Messias simbólico. A vontade de Deus para os israelitas era que exaltassem e honrassem o tabernáculo com fervor contínuo até que eles entrassem em Canaã. Não obstante, os israelitas não despertaram para a vontade de Deus, e caíram na infidelidade e queixando-se de Moisés. (Nm 11, 1)
Quando Deus mandou que enviassem doze pessoas para Canaã, todos, exceto Josué e Caleb, apresentaram relatórios incrédulos; assim a glória do Senhor se manifestou a todo o povo, e Ele disse a Moisés: Javé disse a Moisés:
“Até quando esse povo vai me desprezar? Até quando se recusará a acreditar em mim, apesar de todos os sinais que tenho feito entre vocês?”(Nm 14, 11)
Devido a falta de fé dos israelitas, o segundo curso falhou também, e eles tiveram que passar 40 anos, cada dia calculado como um ano, vagando pelo deserto, até voltarem a Cades-Barnéia.
Vocês exploraram a terra durante quarenta dias. A cada dia corresponderá um ano. Pois bem! Vocês carregarão o peso de suas faltas por quarenta anos, para que vocês saibam o que significa abandonar a mim.(Nm 14, 34)
Para Moisés foi o terceiro curso de 40 anos, no qual tentava estabelecer o fundamento de fé. Deus ordenou que Moisés ferisse a rocha com sua vara, perante a congregação dos israelitas, para que tivessem água e bebessem. (Nm 20, 8) Moisés, ao ver que o povo murmurava com ressentimento contra ele, foi tomado de furor e feriu a rocha duas vezes. Pos isto Deus disse:
“Já que vocês não acreditaram em mim e não reconheceram a minha santidade na
presença dos filhos de Israel, vocês não farão esta comunidade entrar na terra que eu vou dar a eles”.(Nm 20, 12)
Assim falhou Moisés em realizar a vontade divina depois de tanto esforço e estando tão próximo da entrada da terra prometida. Ele devia ferir uma vez só, mas devido ao seu pequeno erro de ter batido duas vezes, ele nunca pôde entrar na abençoada terra de Canaã, embora ela estivesse diante se seus olhos (Nm 20, 24).
Devemos compreender por que Moisés devia ter ferido a rocha uma só vez, e como o fato de tê-la ferido duas vezes tornou-se um crime. Cristo é simbolizado como a rocha; (I Co 10, 4) portanto, Deus autorizou a ferir uma vez, como condição para restaurar o primeiro Adão da queda para o segundo Adão que seria Jesus. Todavia, o ato de ferir pela segunda vez tornou-se a ação que representava a possibilidade de ferir Jesus, que havia de vir como a rocha e daria de beber da água da vida a toda a humanidade.
“Mas aquele que beber a água que eu vou dar, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe darei, vai se tornar dentro dele uma fonte de água que jorra para a vida eterna.”(Jo 4, 14)
Depois Josué, sucessor de Moisés, enviou dois homens a Jericó que voltaram da missão dizendo: “Realmente Javé está entregando esta terra em nossas mãos. Os habitantes estão tremendo diante de nós” (Js 2, 24) Estes dois espiões tinham a fé que agradou a Deus, e assim eles puderam indenizar o pecado de seus antepassados, de acordo com a vontade de Deus. Os israelitas disseram a Josué: “Faremos tudo o que você nos ordenou e iremos para onde você mandar. Obedeceremos a você..” (Js 1, 16) Desta maneira, os israelitas com o risco de suas vida fizeram a condição de fé para entrar em Canaã, de acordo com o mandamento de Deus e tomaram Jericó.
Examinando a providência de Deus centralizada em Moisés, não podemos negar o fato de que Deus está por trás da história humana, conduzindo-a para um propósito absoluto. O grau do cumprimento por parte do homem de sua porção de responsabilidade decide o êxito ou o fracasso da predestinação de Deus.

Notas:

[1] BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade.Petrópolis: Vozes, 1999. p. 62-68.
[2] O Maniqueísmo foi fundado por Mani (c.216-276), é uma combinação de
pensamento cristão, zoroastrismo e idéias religiosas orientais numa filosofia
dualística.
Mani cria em dois princípios eternos em oposição, o bem e o mal. Exaltou a vida
ascética ao ponto de ver o instinto sexual como mal e enfatizou a superioridade
do solteiro. CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos Séculos. p.81.
[3] FUSCO, Karina. O que é heresia? Revista das Religiões, São Paulo, ed. 11, p.10,
jul. 2004.
[4] ENCICLOPÉDIA Católica. St Irenaeus
[5] BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade.Petrópolis: Vozes, 1999. p. 72-73.
[6] Montanus começou a profetizar na Frigia em 155, declarando que o parácleto
estava falando através dele para a Igreja. Enciclopédia Católica
< http://www.newadvent.org/cathen/10521a.htm> Acesso em: 26 set. 2005.
[7] BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade.Petrópolis: Vozes, 1999. p. 74.
[8] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos Séculos. São Paulo: Sociedade
Religiosa Edições Vida Nova, 1988. p. 124
[9] BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade.Petrópolis: Vozes, 1999. p. 76.
[10] Em 311, Donato sustentava que o fato de não ter sido fiel no tempo da
perseguição invalidava a ordenação de Ceciliano bispo de Cartago. Um sínodo
em Roma determinou que a validade de um sacramento não depende da moral do que
o administra. Em 314, outro concílio de bispos voltou a refutar as idéias
donatistas. Esta controvérsia preocupou grandemente a Agostinho.
[11] Pelágio, o adversário de Agostinho, da Igreja britânica não reconheceu a
primazia do bispo de Roma, adotou as práticas da Igreja oriental em determinar
a data da Páscoa.
[12] Ário, padre, afirmava que somente Deus Pai era eterno e que Jesus não existia
antes de nascer, era homem e que só poderia haver um Criador, a divindade só
poderia ser atribuída a um único Deus.
[13] BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade.Petrópolis: Vozes, 1999. p. 79.
[14] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos Séculos. São Paulo: Sociedade
Religiosa Edições Vida Nova, 1988. p. 191
[15] BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade.Petrópolis: Vozes, 1999. p. 80.
[16] O cristianismo introduziu o novo conceito de um Deus que tomou a condição
humana, o personagem de Cristo foi objeto de muitas interpretações
contraditórias, foi necessário de definir a crença oficial dos cristãos, os
dogmas que são considerados pela Igreja como intangíveis são fundamentos da fé
católica junto como a tradição. Os fiéis são obrigados a uma adesão irrevogável
de fé. O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou
transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, Cf. Catecismo
da Igreja Católica, Nº 85-88.
[17] BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade.Petrópolis: Vozes, 1999. p. 89.
[18] BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade.Petrópolis: Vozes, 1999. p.90
[19] ENCICLOPÉDIA Católica acessado:
22 de out. de 2005
[20] BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade.Petrópolis: Vozes, 1999. p. 93 a 96
[21] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos Séculos. São Paulo: Sociedade
Religiosa Edições Vida Nova, 1988. p. 109
[22] ENCICLOPÉDIA Católica acessado:
28 de out. de 2005
[23] BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade.Petrópolis: Vozes, 1999. p. 96
[24] Os cátaros ou albigenses, assim chamados porque foram mais numerosos em Albi,
no sul da França. Criam na existência de um dualismo absoluto entre o Deus
bom, que fez as almas e o deus mau associada a matéria. Os Valdenses é um
movimento puritano que apareceu no final século XII. Pedro Valdo, se converteu
e abandonou todas os seus bens e organizou um grupo conhecido com os “Pobres de
Espírito”. Joaquim (c. 1132-1202), um monge cistercience, cria que o Pai no
período do Antigo Testamento, o Filho na era do Novo Testamento até 1260, e na
era do Espírito Santo depois de 1260, uma nova época de amor surgiria. CAIRNS,
Earle E. O Cristianismo através dos Séculos. São Paulo: Sociedade Religiosa
Edições Vida Nova, 1988. p. 185- 186.
[25] FELIPPE Cristiana – Deus, o grande mistério do ser humano - Revista das
Religiões, São Paulo, ed. 7, p. 25- 27, mar. 2004.
[26] Catecismo da Igreja Católica, Nº 219.
[27] Catecismo da Igreja Católica, Nº 32-33.
[28] Um “dia” deve ser entendido como período. Em hebraico, “dia” refere-se a um
espaço de tempo. Pode ser um período longo que se estenderia por milhares de
anos. SOCIEDADE DE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS - Existe um Criador que
se Importe com você? – New-York: 1998 - p. 93
[29] Veja anexe a nova teologia do Rev. MOON, S. M. - Princípio Divino – São Paulo:
Associação do Espírito Santo para a Unificação do Cristianismo Mundial, 1997 -
p. 40
[30] BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade.Petrópolis: Vozes, 1999. p. 154;
210-211
[31] Veja - Scofield Notas de Referência - O desejo de Deus era que o homem se
torna templo de Deus (I Cor 3, 16) e forma um só corpo com Ele (Jo 14, 20),
isto significa que o homem atinge a deidade, sentindo exatamente o que Deus
sente e conhecendo a vontade de Deus. Não comer do fruto simbolicamente
significa abster de relacionamento sexual antes de alcançar a maturidade e de
ser abençoada em casamento sagrado.
[32] Catecismo da Igreja Católica, Nº 293
[33] Catecismo da Igreja Católica, Nº 204, 205, 214, 221
[34] BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 205
[35] Catecismo da Igreja Católica, Nº 53
[36] MANIGNE Jean-Pierre – Le prophète. Actualité des religions - HS N°4 - p 16
[37] Catecismo da Igreja Católica, Nº 302
[38] As características do arcanjo Lúcifer, que se tornou Satanás, transmitidas
para Eva e Adão quando cometeu o ato da queda, contra a vontade de Deus,
herdadas por Caim, Abel e Set e todos os descendentes. A motivação básica que
causou a “natureza original da Queda” estava no ciúme que o arcanjo sentiu
para com Adão.
[39] Na versão Almeida Revista e corrigida
[40] Esta palavra significa o caminho que uma figura central na providência deve
seguir para cumprir uma missão doada por Deus durante um período de tempo
predefinida baseada nos números: 12, 4, 21 e 40, veja a nova teologia do
princípio divino pág. 285

(a seguir parte 2)

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